quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Manifestações em Washington fazem tremer as grandes petrolíferas


Estadunidenses protestam contra oleoduto de 2.700 km que a TransCanada Corp. quer construir entre o Canadá e o Golfo do México.

Por Amy Goodman, no Democracy Now!

30 de Agosto de 2011 - 16h24A Casa Branca sofreu uma sacudida nesta terça-feira (23), não só por conta do terremoto de magnitude 5,8 na escala Richter, mas também pelos crescentes protestos em frente à casa presidencial. Mais de duas mil pessoas dizem que se arriscarão a ser presas nas próximas duas semanas. Os manifestantes se opõem ao projeto do oleoduto Keystone XL, desenhado para transportar óleo cru das areias betuminosas (de onde se explora o petróleo) de Alberta, Canadá, a refinarias da Costa do Golfo do México, nos Estados Unidos.

Na arquitetura, “Keystone”, que significa “pedra angular”, é a pedra que fica em cima de um arco, mantendo-o em pé. Sem ela, a estrutura cairia. Ao expor o risco de serem presos, como já aconteceu com mais de 200 pessoas no momento em que escrevo esta coluna, os praticantes da orgulhosa tradição de desobediência civil estadunidense esperam provocar o colapso não só do projeto de oleoduto, como também ameaçar a dependência de combustíveis fósseis que estão acelerando a mudança climática.

Nill McKibben foi um dos presos. McKibben é o ambientalista e criador do grupo 350.org, que se refere ao limite de segurança da quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, no caso 350 ppm (partes por milhão). Atualmente, O planeta possui 390 ppm.

No chamado para se somar ao protesto, McKibben, junto a personalidades como a periodista Naomi Klein, o ator Danny Glover e o cientista da Nasa, James Hanse, afirma que o oleoduto de Keystone “equivale a acender o pavio da maior bomba de carbono do planeta. Assim, precisamos que o Presidente Barack Obama e o resto do governo centrem muito mais atenção na mudança climática”.

O movimento de oposição a Keystone XL abarca de ativistas e cientistas até povos indígenas das planícies e florestas boreais que correm perigo no Canadá, onde se encontram as areias betuminosas, passando por produtores rurais e agropecuários da região ecologicamente vulnerável de Sand Hills em Nebraska, estudantes e médicos.

Quando questionado por que os protestos diante da Casa Branca acontecem enquanto o Presidente está de férias com sua família em Martha’s Vineyard, McKibben respondeu: “Também estaremos aqui quando Obama regressar. Permaneceremos duas semanas, todos os dias. Trata-se do primeiro ato de desobediência civil do movimento ambientalista dessa magnitude em anos”.

A apenas alguns quilômetros ao leste de Martha’s Vineyard e há exatos 170 anos, em Nantucket, Frederick Douglass, o escravo fugido, abolicionista, jornalista e editor, fez um de seus discursos mais importantes diante da Sociedade de Massachussetts Contra a Escravidão. Douglass é famoso por ter pronunciado uma das verdades fundamentais sobre a organização de base: “O poder não outorga nada se você não o pressiona. Jamais o fez e jamais o fará”.

Exigir mudanças é uma coisa e as conseguir em Washington D.C. é outra, em particular se considerarmos a hostilidade da Câmara de Representantes – controlada pelos republicanos – diante de qualquer legislação contra a mudança climática. É por isso que os protestos contra o oleoduto Keystone XL estão acontecendo em frente à Casa Branca.

Obama tem o poder de deter a construção do oleoduto. A empresa canadense que está por trás do projeto, TransCanada, pediu uma permissão ao Departamento de Estado dos Estados Unidos para construir o oleoduto. Se o Departamento de Estado negar a permissão, o oleoduto Keystone estará morto. A grande devastação ambiental provocada pela extração de petróleo das areias betuminosas continuaria, mas sem fácil acesso às refinarias e ao mercado estadunidenses, assim o processo inevitavelmente demoraria.

Os executivos da TransCanada estão confiantes de que os Estados Unidos lhes outorgarão a permissão até o fim do ano. Os políticos republicanos e a indústria petrolífera divulgam o projeto dizendo que gerará postos de trabalhos bem remunerados na construção, e que inclusive tem apoio de alguns sindicatos.

Em resposta a isso, dois grandes sindicatos, o Sindicato Unido de Trânsito e o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte, que representam mais de 300 mil trabalhadores, pediram ao Departamento de Estado que negasse a licença para a empresa canadense. Expressaram em uma nota oficial conjunta: “Necessitamos de postos de trabalho, mas não baseados em aumentar nossa dependência do petróleo e das areias betuminosas. (...) É possível gerar muitos empregos tomando por base o desenvolvimento da conservação energética, na modernização da rede de eletricidade, na manutenção e expansão do transporte público; empregos que poderiam ajudar a diminuir a contaminação do ar, as emissões de gases do efeito estufa, além de melhorar a eficiência energética”.

Duas mulheres canadenses, a atriz indígena Tantoo Cardinal, que protagonizou o filme “Dança com Lobos” e Margot Kidder, que fez o papel de Lois Lane em “Superman”, foram presas juntas a mais de 50 pessoas pouco antes do terremoto que sacudiu a costa leste.

De Washington, McKibben falou: “Será preciso mais de um terremoto ou furacão para nos amedrontar. Ficaremos aqui até o dia 3 de setembro”. E continuou “Temos a esperança de gerar um tremor de magnitude 8 na escala Richter no sistema político no dia em que Obama diga ‘não’ aos grandes projetos petrolíferos e nos lembre a todos porque nos alegrou tanto com sua eleição. O oleoduto das areias betuminosas é a prova a qual deverá se submeter”, concluiu.

Fonte: Estratégia & Análise

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