Por foo
Do The Wall Street Journal
Não são só os países da zona do euro que estão tendo de pagar mais caro para tomar emprestado: as empresas europeias também estão, com a crise de dívida restringindo os empréstimos bancários e espantando investidores do mercado de renda fixa.
rativa europeia que precisa ser refinanciada deve dar um salto em 2012. Mas os bancos estão emprestando menos e a taxas maiores, forçando companhias a buscarem recursos nos mercados, onde os investidores estão ficando cada vez mais seletivos. Se as empresas têm menos crédito, isso se traduz em menos investimentos do setor privado — outro entrave para economias já adoecidas.<--break-> "O acesso ao capital vai ficar cada vez mais difícil para algumas empresas, e estamos cada vez mais conversando com empresas que dizem que os custos estão subindo e que os contratos estão mais rígidos", diz Michael Smith, que trabalha com mercados de dívida no Investec Bank, em Londres.
"Não há duvidas de que qualquer piora do ambiente macroeconômico poderia novamente desafiar o refinanciamento nos mercados de títulos de dívida, num momento em que a dependência desses mercados está crescendo", disse Michel Carayon, vice-presidente sênior da Moody's.
Desde o fim do ano passado, os empréstimos corporativos desfrutavam de uma posição privilegiada, em meio ao pessimismo na Europa. Muitas empresas reforçaram os caixas para se proteger contra a recessão. Além disso, a dívida corporativa da zona do euro é precificada com base nos títulos de dívida do governo alemão, atualmente em níveis recordes de baixa em termos de rendimento, o que significa que investidores os consideram seguros. Os títulos de dívida pública da Alemanha com vencimento em 10 anos, por exemplo, estão sendo negociados com rendimento recorde de 2,16%, depois de chegarem a 4,5% em 2007. Como resultado, os custos de financiamento de dívida de muitas companhias na Europa caíram durante o primeiro semestre deste ano.
Agora isso está mudando. Os juros estão subindo para várias empresas europeias, aumentando a probabilidade de que algumas tenham de lidar com custos de dívidas maiores ou que a rota para os mercados de capitais seja bloqueada ao mesmo tempo. Alguns participantes do mercado dizem que a liquidez não desapareceu, em parte porque muitos investidores estão tentando ficar fora do caos.
Os rendimentos que companhias de países atribulados da zona do euro, como Espanha, Irlanda e Itália, têm de pagar para conseguirem vender seus títulos de dívida têm aumentado há algum tempo. Empresas como as elétricas Iberdrola SA, da Espanha, e Enel SpA, da Itália, além da Telecom Italia SpA, tiveram de pagar mais em emissões de títulos recentes, dizem investidores.
O tamanho do problema pode ser medido pela diferença, ou "spread", entre os custos de dívida emitida por empresas desses países e o custo da dívida soberana do governo alemão, considerada a mais segura da Europa.
No mês passado, por exemplo, a Enel pagou 4,27 pontos porcentuais a mais que os títulos de dívida do governo alemão, conhecidos como "bunds", numa operação com prazo de 7 anos. Em julho, a empresa italiana havia pago 1,77 ponto porcentual acima dos bunds, para um vencimento de 6 anos. Em 2007, a Enel pagou juros de 0,62 ponto porcentual acima dos títulos públicos da Alemanha.
Os juros corporativos normalmente seguem o movimento da dívida do país onde a empresa está sediada. "Com a alta dos spreads soberanos, aumenta a pressão sobre os custos de financiamento de dívida de companhias sediadas naquele país", diz Chris Bullock, investidor de crédito da Henderson Global Investors em Londres.
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Mais recentemente, uma nova classe de empresas da zona do euro começou a sentir o efeito, com os spreads de firmas francesas, belgas, austríacas e mesmo holandesas acompanhando o aumento dos spreads de suas dívidas soberanas. Mesmo o Reino Unido, visto como porto seguro fora da zona do euro, foi afetado. Alguns investidores dizem que a varejista Marks & Spencer Group PLC pode ter dificuldades em vender dívida, como a empresa planeja fazer em breve, se os termos não forem generosos. A Marks & Spencer Group não respondeu a solicitações para comentários.
A operadora de aeroportos britânica BAA cancelou uma emissão de títulos este mês em meio à volatilidade do mercado. "À luz de uma deterioração significativa das condições de mercado, após o anúncio de uma proposta para a venda de dívida, particularmente o impacto dos eventos na Itália sobre os mercados europeus, foi tomada a decisão de adiar a transação", afirmou a companhia.
"Qualquer coisa que chegue ao mercado precisa vir com um prêmio de risco adicional", disse Dinesh Pawar, diretor de fluxo de operações de crédito da Aviva Investors.
Esse prêmio está, em média, entre 0,25 e 0,5 ponto porcentual acima do nível pelo qual a dívida já existente da empresa está sendo negociada, comparado com prêmios entre 0,1 e 0,15 ponto porcentual que as companhias pagavam recentemente, quando os mercados estavam menos voláteis, segundo Pawar.
As condições dos empréstimos bancários negociados no mercado não são muito diferentes. Este mês, a Weetabix Ltd., uma fabricante britânica de cereais controlada por uma firma de private equity, teve de pagar aos investidores um extra de 2 pontos porcentuais por uma extensão de dois anos para um empréstimo existente. Em períodos menos turbulentos, a companhia não teria tido de pagar nenhum extra, disse John Redding, gerente da carteira de empréstimos alavancados da Eaton Vance Management, com sede em Boston. A Weetabix não quis comentar.
Isso só agrava um problema crescente para companhias que permanecem ilesas à crise da zona do euro, tais como a Smith of Derby, uma grande fabricante de relógios do Reino Unido.
"No ano que vem vai ser mais difícil para uma empresa recorrer a um banco, devido ao que está acontecendo na zona do euro", disse Bob Betts, diretor-gerente da firma com sede na região de Midlands, na Inglaterra. "Então a quem as empresas vão recorrer? Porque os mercados financeiros vão pedir mais."
Para ilustrar como tal pressão sobre os financiamentos poderia afetar o crescimento econômico na Europa, Betts diz que a companhia não precisa ter o dinheiro, mas quer os recursos para expandir os negócios na Ásia.
Investidores como Bullock, da Henderson Global, enquanto isso, estão com pouca exposição às empresas europeias devido ao aumento dos riscos de recessão. "Não vejo razão para mudanças até que tenhamos um plano sólido para restabelecer a confiança na zona do euro", disse Bullock.
Redding, da Eaton Vance, disse que os investidores de crédito nos Estados Unidos também estão mais relutantes em investir na Europa.
As companhias europeias têm uma grande quantidade de dívida que precisará ser refinanciada. No ano que vem, empresas da Europa, do Oriente Médio e da África, com grau de investimento e fora do setor financeiro, terão US$ 334 bilhões em dívida vencendo, 24% a mais do que os US$ 269 bilhões deste ano, e um total de US$ 1,2 trilhão nos próximos quatro anos, de acordo com a Moody's Investors Service. Quase 95% dos US$ 1,2 trilhão são da Europa. Empresas francesas respondem por 16% dessa quantia, as italianas, 8%, e as espanholas, 7%.
As empresas serão empurradas cada vez mais para os mercados financeiros, dizem investidores e analistas. Os bancos estão menos dispostos a emprestar por causa da desalavancagem de seus balanços e porque os custos de financiamento dessas instituições também estão subindo. Segundo os bancos, as novas regras também deixam os empréstimos corporativos mais caros. O Morgan Stanley estima que os bancos europeus vão desalavancar cerca de 1,5 trilhão a 2,5 trilhões de euros (de US$ 2 trilhões a US$ 3,4 trilhões).
(Colaborou Art Patnaude)