sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quatro das dez maiores empresas do mundo são estatais 20/01/2012



Sílvio Guedes Crespo


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Quando a respeitada revista “The Economist” não consegue mais do que lamentar o avanço do capitalismo de Estado, podemos suspeitar que o livre mercado esteja, de fato, ameaçado.
Com o revolucionário russo Vladimir Ilitch Lenin na capa da sua atual edição, o semanário mostra o avanço, mundo afora, das empresas estatais de países emergentes – e dos governos que as dirigem. Em seguida, expõe os principais problemas desse modelo e afirma que ele tende a ruir no longo prazo. Mas o fato é que, com todas as suas distorções, esse modelo está ganhando espaço justamente por causa da crise dos países onde reina o livre mercado.
Poder do Estado
A revista apresenta alguns dados que mostram o poder do capitalismo de Estado:
- Das dez empresas de capital aberto do mundo que mais faturam, quatro são estatais: as chinesas Sinopec, Corporação Nacional de Petróleo da China e State Grid e a japonesa Japan Post (veja abaixo reprodução de gráfico publicado na revista);
- As dez maiores empresas de petróleo e gás do mundo, medidas pelo tamanho das reservas, são estatais;
- Juntas, as companhias controladas pelo Estado têm um valor de mercado correspondente a 80% do mercado de ações chinês, 62% do russo 38% do brasileiro, considerando o índice de ações MSCI, calculado pelo banco Morgan Stanley;
- Dos investimentos estrangeiros diretos em países emergentes previstos para 2012 e 2013, um terço tende a ir para empresas estatais.
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E o avanço do Estado em territórios tradicionalmente liberais não para. No dia em que a “Economist” publica essa reportagem, a rede pública de TV britânica informa que o Fundo Soberano da China comprou 9% da Thames Water, a maior empresa de tratamento e fornecimento de água do Reino Unido.
Fraquezas do novo modelo
É mais do que sabido que o capital estatal é menos eficiente que o privado. Mesmo assim, a “Economist” reforça esse argumento, explicando que as estatais costumam crescer mais devagar do que as empresas privadas e seus custos tendem a aumentar mais rapidamente. Acrescenta que o capital público promove menos inovações.
Mesmo assim, as companhias gigantes controladas pelo Estado, como a Corporação Nacional do Petróleo da China, acabam “roubando” a cena no mercado local, atraindo grandes investimentos e profissionais de talento, sobrando pouco para o setor privado. “Pode levar muitos anos para as fraquezas desse modelo se tornarem óbvias.”
É verdade. Principalmente enquanto não encontrarmos uma solução razoável para a crise provocada pela radical liberalização (ou desregulamentação) do mercado financeiro – cujas fraquezas, essas sim, já estão mais do que evidentes desde pelo menos 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers.
A revista espera que, no longo prazo, os problemas do modelo chinês apareçam com força e provoquem a normalização da economia de mercado. “Ao transformar empresas em órgãos do governo, o capitalismo de Estado simultaneamente concentra o poder e gera corrupção. Ele introduz critérios comerciais em decisões políticas e decisões políticas em negociações comerciais.”
Mas por que esperar que esse modelo entre em colapso num momento em que os países que teoricamente defendem o livre mercado crescem pouco, engalfinham-se em guerra cambial e ameaçam, ainda que veladamente, aumentar o protecionismo comercial?

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