domingo, 27 de outubro de 2013

Quem dá tiro no pé não ajuda sua causa 27/10/2013

Celso Lungaretti

Se os jovens manifestantes black bloc de hoje estivessem dispostos a ouvir e levar em consideração a experiência dos que lutaram outrora contra o (basicamente) mesmo inimigo, eu lhes diria que a Vanguarda Popular Revolucionária também acreditava em dar demonstrações de força no ano de 1968.

Três delas acabaram muito mal.

A bomba deixada no estacionamento de um edifício comercial da av. Paulista era apenas para, explodindo na madrugada, expressar repúdio ao consulado estadunidense lá instalado. Mas, um azarado que chegava com seu veículo naquele momento pegou a sobra.

O carro-bomba lançado ladeira abaixo na direção do QG do II Exército deveria causar pequenos danos no muro e abaixar a crista do comandante arrogante que, pela imprensa, desafiara os guerrilheiros a irem enfrentá-lo "como homens" no seu quartel. Ninguém imaginava que, descumprindo suas ordens, o sentinela deixaria o posto para tentar abrir a porta do automóvel.

Até hoje não se tem certeza de que o militar estadunidense matriculado numa faculdade paulistana fosse mesmo agente da CIA, a decisão de executá-lo se baseou na mera suposição de que não haveria outro motivo possível para ele estar lá incógnito (e se fosse apenas um aspirante a escritor querendo mostrar uma realidade diferente da que estava nos relatórios oficiais e na imprensa?).

Em abril de 1969, no congresso de Mongaguá, a organização decidiu que nada mais faria tão somente para exibir o muque. Tais ações apenas atiçavam a repressão ainda mais contra a VPR, expondo os militantes, parentes e amigos às piores retaliações. Afora fornecerem pretextos para a radicalização do regime.


Que nunca mais se eliminaria um (possível) agente inimigo que, como o major Chandler, não fosse identificado pela opinião pública como tal. "Não vamos mais matar primeiro e explicar depois ao povo por que ele merecia a morte."


Que só efetuaríamos ações armadas depois de um rigoroso planejamento e com efetivos e armamentos suficientes para minimizar os riscos, pois a repressão podia substituir facilmente as suas perdas e nós, não; para cada um que tombava, carecíamos de substituto à altura.


Enfim, estabelecemos o primado das considerações políticas sobre o mero revanchismo, o olho por olho, dente por dente. Não estávamos arriscando nossas vidas para tirar sangue dos repressores, mas sim para acabar com a ditadura. Então, tínhamos a obrigação de agir com inteligência, e não por impulso.


É o que teríamos a ensinar aos black blocs, neste momento em que acabam de fabricar um herói fardado: o comandante do policiamento na região central de São Paulo.

A imprensa reacionária deitará e rolará. A PM já tem seu Kozel 2013, com a vantagem de estar vivo e poder dar centenas de entrevistas, enquanto recebe um sem-número de condecorações.


De tudo que havia para fazerem, esta era uma das opções mais inconsequentes. Quem dá tiro no pé não ajuda sua causa, só fica mancando. E deixa a causa manca.

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