quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Justiça manda retificar atestado de óbito de Alexandre Vannuchi 18/12/13

COMISSÃO DA VERDADE

 Estudante morreu por lesões resultantes de torturas e maus-tratos

Sorocabano Alexandre Vannuchi Leme, morto durante a ditadura militar - ARQUIVO DE FAMÍLIA


A Justiça de São Paulo determinou a retificação da causa da morte do estudante sorocabano Alexandre Vannuchi Leme, morto durante a ditadura militar (1964-1985). O pedido da retificação da morte do estudante foi feito pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) e encaminhado ao Judiciário após solicitação de irmãos da vítima que queriam a alteração do atestado de óbito. Em sua decisão, a juíza Renata Mota Maciel Madeira Dezem, da 2ª Vara de Registros Públicos da Capital, acolheu a manifestação da comissão e ordenou a retificação.

Com isso, o novo documento irá retirar a causa da morte como provocada por "lesão traumática crânio-encefálica" decorrente de atropelamento e passará a atestar que Vannucchi foi morto por lesões resultantes de torturas e maus-tratos sofridos quando estava nas dependências do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo.

Além de estudar na Universidade de São Paulo (USP), Vannucchi militava na Ação Libertadora Nacional (ALN). Ele foi morto em 17 de março de 1973, aos 22 anos, após ser preso na Cidade Universitária. O estudante foi torturado e assassinado nas dependências do DOI-Codi e teve o corpo enterrado na Vala de Perus, em um buraco forrado de cal para acelerar a decomposição.

Em março deste ano, durante cerimônia na capital paulista, a Caravana da Anistia concedeu a Vannucchi uma anistia "post mortem", reconhecendo-o como anistiado político.

Em Sorocaba, o ex-reitor da Uniso, Aldo Vannuchi, tio de Alexandre, comemorou a decisão destacando que era a última reivindicação que a família aguardava para ter atendida. "Fez-se justiça. Ficou provado que Alexandre foi preso, torturado e morto pelo aparato repressor por motivos de ordem política. Embora não tenhamos mais sua presença física, fica a certeza de que sua memória será preservada e, mais ainda, de que ele não era um terrorista, como parte da imprensa chegou a divulgar, mas alguém que lutou pela democracia".

Vannuchi acrescentou que o estudante nunca tomou arma. "Era uma liderança intelectual em plena atividade estudantil. A sentença da qual tomo conhecimento agora corrige toda uma história de mentiras que foi propagada ao longo do tempo. Os próprios colegas de faculdade testemunharam que ele jamais extrapolou ou cometeu qualquer ato contrário à sua própria formação". O reconhecimento oficial também acaba com a espera dos familiares.

Aldo Vannuchi não conseguiu disfarçar a emoção quando falou com a reportagem e disse que o fato deverá ser relatado no livro que escreve sobre a trajetória do sobrinho. "Alexandre - Eu só disse o meu Nome", título da obra, deve ser lançado no ano que vem. "Esse foi o ato conclusivo, o último capítulo de uma história contada ao longo de 40 anos. Ficou definitivamente comprovado que a militância de Alexandre foi construtiva e legítima. Nunca teve o caráter que alguns setores lhe atribuíram".

A passagem dos 40 anos da morte de Alexandre Vannucchi Leme foi tema da edição do dia 17 de março do Caderno de Domingo, produzido pelo repórter do Cruzeiro do Sul, Giuliano Bonamin. O trabalho foi o vencedor do Prêmio Asi-Schaeffler de Direitos Humanos, promovido pela Associação Sorocabana de Imprensa em parceria com a multinacional. (Elaine Patricia Cruz/Agência Brasil - Colaborou José Antônio Rosa)

Nenhum comentário:

Postar um comentário