segunda-feira, 2 de novembro de 2015

'Gênios' e genocídio: Síria, Israel, Rússia e muito petróleo 02/11/2015







F. William Engdahl


Traduzido por Coletivo de tradutores Vila Vudu




As apostas geopolíticas no Oriente Médio acabam de subir uma ordem de magnitude. Misture uma pouco conhecida empresa de petróleo de Newark, no New Jersey, as disputadas colinas do Golan entre Síria e Israel, acrescente uma recém descoberta grande reserva de petróleo bem ali, exatamente quando a campanha de bombardeio russo em território sírio entra em altíssima rotação, agite bem, e aí está um potenCIAl detonador da 3ª Guerra Mundial.

IniCIAlmente – se se volta mais de uma década, até quando os think-tanks conservadores em Washington e o governo Bush-Cheney estavam concebendo a sua agenda de 'mudança de regime' para o Oriente Médio Expandido – gasodutos para gás natural para concorrer com os países da região através da Síria até a Turquia, ou via Líbano até o Mediterrâneo tiveram papel coadjuvante na guerra de Washington contra Assad da Síria. Agora, petróleo, muito, muito petróleo entram em cena, e Israel anda dizendo que pertence ao "Estado judeu". O único problema é que não pertence.

O petróleo está nas colinas do Golan, que Israel tomou ilegalmente, em assalto, da Síria, na Guerra dos Seis Dias em 1967.

Gênio em garrafa putrefata

O que têm em comum Dick Cheney, James Woolsey, Bill Richardson, Jacob Lord Rothschild, Rupert Murdoch, Larry Summers e Michael Steinhardt? Todos eles são membros do Conselho de Aconselhamento Estratégico de uma empresa de de gás e petróleo chamada Genie Energy, com sede em Newark, New Jersey. Toda uma coleção de nomes.

Dick Cheney, antes de ser 'presidente-sombra' de George W. Bush em 2001, foi presidente executivo da maior empresa de serviços para campos de petróleo do mundo, a Halliburton, ligada à CIA, pelo que se diz, e também conectada à gangue da família Bush. James Woolsey, neoconservador e ex-diretor da CIA no governo de Bill Clinton; é hoje presidente da "Fundação para Defesa das Democracias" [ing. Foundation for Defense of Democracies] think-tank neoconservador, e é membro do Instituto Washington para a Política do Oriente Médio [ing. Institute for Near East Policy (WINEP), que opera a favor do partido Likud de Israel. Foi membro do infame Projeto para um Novo Século Americano [ing. Project for a New American Century (PNAC), ao lado de Cheney, Don Rumsfeld e da escória dos neoconservadores que, adiante, constituíram o governo Bush-Cheney. Depois do 11/9/2001, Woolsey referia-se à Guerra ao Terror de Bush-Cheney como " IV Guerra Mundial " (a Guerra Fria seria a III GM). Bill Richardson é ex-secretário de energia dos EUA. Rupert Murdoch, proprietário de vasta rede de veículos de comunicação nos EUA e Reino Unido, dentre os quais o Wall Street Journal, é o maior financiador do neoconservador Weekly Standard de Bill Kristol, que financiou o PNAC. Larry Summers foi secretário do Tesouro dos EUA e inventor propositor das leis que desregularam os bancos nos EUA, tirando-os do alcance da Lei Glass-Steagall de 1933. De fato, com esse movimento, abriram-se completamente as comportas da inundação que ficou conhecida como crise finanCIA-eira dos EUA de 2007-2015. Michael Steinhardt, o especulador dos fundos hedge é filantropo amigo de Israel, de Marc Rich e membro também da Fundação para a Defesa das Democracias de Woolsey. E Jacob Lord Rothschild é ex-parceiro comercial do oligarca (petróleo) russo Mikhail Khodorkovsky, já condenado. Antes de ser preso, Khodorkovsky transferiu secretamente suas ações na Yukos Oil para Rothschild. E Rothschild é dono de parte das ações da Genie Energy que, em 2013 recebeu direitos exclusivos para explorar o petróleo e o gás num raio de 153 milhas quadradas [quase 400 mil quilômetros quadrados] na parte sul das colinas do Golan, direitos que lhe foram outorgados pelo governo Netanyahu. Para encurtar a conversa, a Genie Energy é empresa de deixar qualquer um embasbacado.

Colinas do Golan e lei internacional

O governo de Israel deu a concessão à Genie, nas disputadas colinas do Golan em 2013, quando o processo liderado pelo EUA para desestabilizar o regime sírio do presidente Assad estava a pleno vapor. Convenientemente, no mesmo momento Israel também começou a construir fortificações que vedassem completamente o acesso da Síria às colinas do Golan ilegalmente invadidas e ocupadas, sabendo que pouco haveria que Assad ou a Síria pudessem fazer para impedir. Em 2013, com a Genie Energy já iniciando sua mudança para as colinas do Golan, engenheiros militares israelenses reforçaram a cerca de 45 milhas que acompanha a fronteira com a Síria, substituindo-a por uma barricada de aço que inclui arame farpado, sensores táteis, detectores de movimento, câmeras de infravermelho e radares no solo, construção que só se compara ao Muro que Israel construiu na Cisjordânia.

E agora, quando Damasco luta pela vida, parece que, de repente, a Genie Energy encontrou enorme campo de petróleo exatamente ali..

Mas a ocupação israelense nas colinas do Golan é absolutamente ilegal. Em 1981, Israel fez aprovar uma "Lei das Colinas do Golan" [ing. Golan Heights Law], que impõe "leis, jurisdição e poder de governo" de Israel também nas colinas do Golan. Reação a essa violência, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução n. 242, que declara que Israel tem de retirar-se de todas as terras sírias ocupadas na guerra de 1967, inclusive das Colinas do Golan.

Novamente, em 2008, uma sessão da Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução n. 161-1, a favor de uma moção sobre as colinas do Golan que reafirmou a Resolução n. 497 do Conselho de Segurança, aprovada em 1981, depois de Israel ter feito o que se define por "anexação de facto; a Resolução n. 161-1 declarou a Lei das Colinas do Golan "nula, vácua e sem efeito legal internacional"; e convocou Israel a desistir de "modificar o caráter físico, a composição demográfica, a estrutura institucional e o status legal do Golan sírio ocupado, e, especialmente, a desistir de estabelecer colônias (...) e de impor a cidadania israelense e documentos de identidade israelenses aos cidadãos sírios no Golan sírio ocupado, e a cancelar todas as medidas repressivas contra a população do Golan sírio ocupado."

Israel foi a única nação a votar contra a resolução.

Em junho de 2007, o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert enviou comunicado secreto ao presidente Bashar al-Assad, dizendo que Israel daria as colinas de Golan, em troca de um amplo acordo de paz e do rompimentos de quaisquer laços entre a Síria e o Irã, e entre a Síria e grupos militantes na região.





Genie 'comunica' grande descoberta

Dia 8 de outubro, na segunda semana dos ataques russos, a pedido do governo Assad, contra o ISIS e outros terroristas ditos "moderados", Yuval Bartov, geólogo chefe da subsidiária israelense da Genie Energy, Afek Oil & Gas, disse à Channel 2 TV que sua empresa havia descoberto enorme reserva de petróleo nas colinas do Golan: “Encontramos estrato de 350 metros de altura no sul das colinas do Golan. A média mundial da altura dos estratos é de 20-30 metros; e essa é dez vezes maior; por isso estamos falando de quantidades significativas.”




Esse petróleo agora encontrado gás das colinas do Golan um "prêmio" estratégico que claramente está pondo o governo Netanyahu ainda mais determinado a semear o caos e a desordem em Damasco, e usá-los para criar uma ocupação israelense de facto irreversível do Golan e daquele petróleo todo. Um ministro do governo de coalizão de Netanyahu, Naftali Bennett, da Educação, ministro para as questões da diáspora, e líder do partido religioso de extrema direita O Lar Judeu [ing. The Jewish Home] propôs que Israel, em cinco anos, implante 100 mil colonos israelenses nas colinas do Golan. Diz que com a Síria "em desintegração" depois de anos de guerra civil, é difícil imaginar algum estado estável ao qual as colinas do Golan possam ser devolvidas. Como se não bastasse, cresce em Telavive o coro dos que querem que Netanyahu exija dos EUA que reconheçam a anexação do Golan, em 1981, por Israel, como “salvaguarda adequada com vistas à segurança israelense, depois de assinado o acordo nuclear com o Irã.”

Guerras de energia sempre foram componente significativo da estratégia de EUA, Israel, Qatar, Turquia e, até recentemente, também da Arábia Saudita, contra o regime de Assad na Síria. Antes da recente descoberta de petróleo nas colinas do Golan, o foco contra Assad tinha a ver com grandes reservas de gás natural do Qatar e do Irã, como opostos e concorrentes do Golfo Persa, que incluem as maiores reservas de gás confirmadas, em todo o mundo, até hoje.

Em 2009, o governo do Qatar, hoje lar da Fraternidade Muçulmana e grande financiador do ISIS na Síria e Iraque, reuniu-se com Bashar al-Assad em Damasco.

O Qatar propôs a Bashar que a Síria assinasse acordo que permitisse a passagem por seu território de um gasoduto que sairia do enorme Campo Norte do Qatar, no Golfo Persa, adjacente à também enorme reserva Pars Sul, de gás iraniano. O gasoduto do Qatar passaria por Arábia Saudita, Jordânia, Síria até a Turquia, para abastecer mercados europeus. Mais cruCIAlmente importante: deixava a Rússia de fora.

Matéria da Agência France-Presse noticiava que Assad só se interessara por "proteger os interesses de seu aliado russo, principal fornecedor de gás natural para a Europa.”

Em 2010, Assad integrou-se às conversações com Irã e Iraque, para construir gasoduto alternativa, de $10 bilhões, que potencialmente permitiria ao Irã abastecer a Europa com o gás de seu campo Pars Sul nas águas iranianas do Golfo Persa. Os três países assinaram um Memorando de Entendimento em julho de 2012 – exatamente quando a guerra na Síria alastrava-se para Damasco e Aleppo.



Agora, uma aparente descoberta de grandes volumes de petróleo, por empresa de New Jersey de cujo board participam o arquiteto da guerra do Iraque, Dick Cheney; o neoconservador e ex-CIA James Woolsey e Jacob Lord Rothschild, parceiro de negócios de um dos mais furiosos críticos de Vladimir Putin, Mikhail Khodorkovsky, eleva muito as apostas em torno da intervenção russa a pedido da Síria de Assad, contra os terroristas do ISIS, Al-Qaeda e outros "terroristas moderados" apoiados pela CIA – e dá-lhes nova dimensão geopolítica.

O golpe dos EUA na Ucrânia em 2014, o treinamento e o financiamento para o ISIS e outras gangues de terroristas "moderados" na Síria, todos têm um alvo primário – a Rússia e sua rede de aliados, rede a qual, ironicamente, as políticas de Washington e Israel só fazem ajudar a expandir quase de hora em hora.



http://www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=16379

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